Domingo, Abril 20, 2025

Redondo: “Quando a gente calar… quem é que vai cantar?” – Alerta o “Galo”

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À margem de mais uma iniciativa cultural no Redondo dedicada às tradições da terra, o Alentrium.pt esteve à conversa com uma das vozes mais marcantes do grupo de cantares local. O Galo, como é conhecido, não esconde a preocupação: faltam jovens para continuar o legado do Cante Alentejano.

Enquanto o Redondo acolhia mais uma iniciativa dedicada à promoção da cultura, do vinho e das tradições locais, o Alentrium.pt aproveitou para conversar com um dos rostos mais conhecidos do grupo de cantadores do RedondoRoque, mais conhecido por “o Galo”.

Figura acarinhada na vila, é presença habitual nas atuações que mantêm vivo o Cante Alentejano, essa expressão profunda da alma do Alentejo. À margem do evento, falou connosco com a simplicidade e sabedoria de quem carrega décadas de ensaios, palcos e convívios.

“Pode tratar-me por Galo, que é assim que o povo me conhece”, começou por dizer, com um sorriso tímido. E rapidamente mostrou ao que vinha: “É preciso mostrar ao mundo aquilo que o Alentejo tem de melhor – e o Redondo também.”

Fala com orgulho do percurso do grupo e da qualidade das vozes atuais: “Cada vez estão mais afinadas, e cada vez representam melhor não só o Redondo, mas também o Alentejo.” Mas há um problema que o preocupa profundamente: a falta de juventude nos grupos de cantares tradicionais.

“Cada vez somos mais grupos, e a gente cada vez está a ficar mais… não é velhos, é a idade, vai avançando. E os mais novos? Pouco aderem. Aqui, zero. Não acontece, não sei porquê.”

Ao contrário de outras zonas da região: “Você vai ao Baixo Alentejo e vê muitos jovens. Aqui, não.”

Para o Galo, a solução pode passar pelas escolas: “Isso devia começar na escola primária, na secundária, com apoio da câmara, para ir lá cantar com os miúdos…e o próprio grupo ir lá cantar para os mais pequenos. Pode ser que pegue.”

Atualmente, o grupo de cantadores do Redondo conta com cerca de vinte elementos. Continuam a atuar com regularidade. “Praticamente nem ensaiámos. Vamos ali à Tasca bebemos uns copos… mas é como eu digo: vamos cantando porque fazemos o que gostamos”

No entanto, o tempo pesa. E o alerta é claro: “Cada vez estamos mais velhos e já não conseguimos tapar todos os buracos. 


Cante Alentejano, inscrito pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, continua vivo graças à dedicação de grupos como o do Redondo. Mas como nos lembra o Galo, com a voz marcada pela experiência e pela urgência:
“É preciso que apareça gente nova. Porque quando a gente calar… quem é que vai cantar?”

Augusta Serrano

Onde a alma do Alentejo ganha voz, para todos os cantos do Mundo.

Augusta Serrano
Onde a alma do Alentejo ganha voz, para todos os cantos do Mundo.

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