Cinquenta e cinco peregrinos caminham de Moura a Fátima. Não o fazem por vaidade, nem por desafio pessoal. Fazem-no por fé. Cada passo é uma oração. Cada dor, uma oferta. Cada gesto, uma expressão silenciosa de amor.
Entre eles, trinta caminham pela primeira vez. Vêm com o coração aberto, com incertezas, com o peso do desconhecido. Os restantes regressam, não para repetir, mas para reviver — porque cada peregrinação é única, irrepetível, transformadora.
A estrada é longa e exigente. O corpo cansa, os pés queixam-se, a mente hesita. Mas a alma vai à frente, firme, como chama acesa que nem o vento consegue apagar. Não se caminha sozinho. Há mãos que amparam, sorrisos que animam, silêncios que compreendem. Há apoio vindo de todos, porque nesta caminhada, todos são apoio uns dos outros.
A cada dia vencido, cresce a união, a confiança, a certeza de que o mais importante não é o que se leva calçado, mas o que se leva no coração. Nesta peregrinação, não importa a cor das meias nem o tipo de sapato. Importa a entrega. Importa o amor.
Há quem venha com fardos pesados — dores que não se veem, lutas internas, cicatrizes da vida. Mas o caminho cura. Cura devagar, passo a passo. E ao aproximar-se Fátima, sente-se o coração a bater mais forte, a alma a desprender-se do que a prende.
E então acontece: o arrepio. Aquele momento em que, ao entrar no recinto do Santuário, o corpo estremece e os olhos se enchem. Não é cansaço. É encontro. É o regresso ao colo da Mãe. É perceber que todo o esforço valeu a pena. Que cada lágrima foi semente. Que cada passo foi resposta a um chamamento interior.
Porque peregrinar é isso: rezar com os pés, amar com gestos simples, esperar contra todas as dúvidas. É deixar-se guiar por algo maior, por Alguém que, sem se ver, se sente.
Em cada peregrino que chega a Fátima, há um milagre. Pequeno, íntimo, silencioso. Mas real. Profundamente real.